Um poema meu de 08 de Junho de 2.000
"NA PRAIA
Hoje está calmo o mar
Não oferece mais perigo
Chega a parecer amigo
Como brisa noturna a soprar
Os longos cabelos do menino
No horizonte se perde a olhar
Buscando o infinito
Quem sabe até o destino
Se nada custa sonhar
Deseja, então algo bom ao espírito
Que vai longe, distante
Se hoje está sozinho
A secar mais este vinho
Esqueceu das promessas de antes.
Será que lembra do passado
De tudo que viveu?
Muito fez de errado
Muito que lembra sequer aconteceu.
Confunde pensamentos
Com seus desejos internos
Para aliviar seus sofrimentos
Queria um abraço terno
Hoje ela não está perto
A cena de outros tempos repete-se
Os degraus com calma desce
Isto ele julga certo
Dar um fim ao ser
É o que está por fazer.
Primeira vez ali não era
Aquele ponto já chegara antes.
Cansado de tanta espera
A vida não daria mais chances.
Julgava não ter mais sorte
Entregar-se-ia a tão indesejada,
A por muitos evitada,
Sim, a senhora morte.
Na praia ele estava só
Vendo casais a passar.
Este sofrimento maior.
Casais, que tortura
Talvez não fosse loucura
Lançar-se ao mar.
A lua do alto tudo via
Muito faltava para raiar o dia.
Sim, a lua
Que homens a amores inspira
Sim, a lua
Que de outros a razão tira.
Ninguém para acompanhá-lo
Este ato ficaria sem segredo
Para não hesitar, não ter medo
Mais um ataque ao gargalo,
Este falso encorajador
Já chegara ao fim.
Na cabeça a dor
O que fazia pensar assim:
“Hoje posso dizer adeus,
A esta obra de Deus
Que muitos chamam de vida
Problemas bastam-me os meus
No fim o único ferido fui eu
Lembre-se disso, minha querida.”
Não reconhecia alegria tida
Queria acabar com a vida
Trazia consigo os ingredientes
O que achava suficiente
O mar a sua frente
A bebida tornando-o inconsciente
Um só pensamento na mente
Coração amargurado, doente
“Cheguei até aqui não posso parar,
Tudo conspira a meu favor”
Na cabeça a dor
No peito a falta de um amor
Oceano a se agitar
Parecia haver força estranha no ar.
Por mais que tentasse
Faltava-lhe a coragem
Queria que fosse feia miragem
E de tudo não mais lembrasse
Como fugir da realidade?
Como negar o que os olhos vêem?
“Como posso não trair a amizade,
Sem com isso feri-la também?”
Não ter ido até o fim
Para ele era um fracasso
E mesmo que não fosse assim
Saber que não a teria em seus braços
Sempre o deixaria louco,
Pois não era a primeira vez
Que estivera a um passo
Quando faltava muito pouco
E aceitou a possibilidade de um talvez
Outra garrafa foi aberta
Da anterior nada resta
Primeira dose modesta
Talvez acabe também esta
Mas a noite é longa
E o ritmo das ondas
Mais parecia um convite
“Venhas sem mais delongas,
Não mais se escondas
Não mais hesite ”.
Triste fim seria aquele
Com o pensamento disperso
Lembrou-se de antigos versos:
“Lágrimas homogeneizadas as águas
No infértil solo da minh’alma deságuam
Meus sentimentos limitam-se aos prantos
E enquanto penso
Nas alegrias que não tenho
A esperança morre
E a lágrima pelo rosto escorre
A essas águas revoltas
Quero me entregar
Já não me restam forças
Não posso comigo mais lutar”.
Foi-se a noite
O sol agora nasce
Terrível açoite
No peito permanece a dor
E a falta de um amor
Como seguir com este impasse
A perda dos sentidos, do norte
O ânimo sempre escasso
Presente só o fracasso
E a falsa sensação de morte
No triste retorno para casa
Não anda se arrasta
O mar ainda ao seu alcance
Talvez esta última chance
De a tudo dar um basta.
Por vários momentos
Os degraus chegou a descer
Mas algo que vinha de dentro
Sempre o impedia
“Não pode ser”
Irritado consigo dizia
E por mais que ele bebesse,
E muito ele bebia,
Sabia que não era esse
O tão esperado dia
Em que tudo iria acontecer.
Fernandes O . Cerqueira"
Nenhum comentário:
Postar um comentário