Enquanto Deliro

de noite enquanto deliro
decifro sobre o papel
impressões não minhas
e sorvo o licor das vinhas
prometo ser este o último copo
e me afogo nas saudades
e o fogo de tenra idade
se esvaiu,
do poço onde caí
não vejo seu fundo
assim como do copo também
pra rimar apenas vou além
procuro razão no mundo
_viver é insulto para quem apenas sobrevive.
e se sou livre
para ir e vir e voltar a ser aquilo que nunca fui
vou sendo a compreensão daqueles que me criam a sua própria maneira
copo vazio, página cheia
a arte desvenda mistérios não letárgicos
faço acordos, enumero as folhas
observo na estante quantas rolhas
as possibilidades são várias
com voracidade a celulose é atingida e tingida pela caneta
uma gota ao canto da boca
revela que a rima chegará ao seu fim
ou que a garrafa agora seca
não se presta nem de adorno na estante
e ao verso faço bandono
pois o meu instante é prelúdio do sono

2 comentários:

  1. viver é insulto para quem apenas sobrevive"- perfeita esta colocação, bateu fundo e acordou o que estava latente fingindo que vivia. É isto, vida , é intensificar toda nossa vivência. Olha vai lá no Blog e comenta o que postei hoje , estou pra baixo, rs, bem agora lendo seu poema até que levantei ...um pouquinho. Abraços, Claudete

    ResponderExcluir
  2. Chique demais os seus versos arrebatamento de rolhas ao borbulhar daquilo que em nós faz ferver o sangue em sonhos que também podem ser delírios e daí?
    Cadinho RoCo

    ResponderExcluir